27.6.11

ALGUÉM ESPERA PELO TEU SORRISO


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Agradecimentos: Elizabeth Yamamoto. 

25.6.11

A FACE EMOCIONANTE DA JUSTIÇA

A seguir, a reprodução de matéria rica em sabedoria e ensinamentos, publicada em 10/05/2011, por 24 Horas News, com o título "Juiz nega Justiça Gratuita para garoto, mas desembargador reverte a decisão"
              
               É simplesmente emocionante a decisão de um desembargador do
Tribunal de Justiça de São Paulo. Um garoto pobre, que perdeu o pai em um
acidente de trânsito, pediu ajuda da Justiça Gratuita, mas um juiz negou. A
negativa por si só já comove, principalmente pela falta de humanidade. Só
que a decisão de um desembargador, que veio depois, é muito mais emocionante.

               Decisão do desembargador José Luiz Palma Bisson, do
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida num Recurso de Agravo de
Instrumento ajuizado contra despacho de um Magistrado da cidade de Marília
(SP), que negou os benefícios da Justiça Gratuita a um menor, filho de um
marceneiro, que morreu depois de ser atropelado por uma motocicleta. O
menor ajuizou uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo
pensão de um salário mínimo, mais danos morais decorrentes do falecimento
do pai.

               Por não ter condições financeiras para pagar custas do
processo o menor pediu a gratuidade prevista na Lei 1060/50. O Juiz, no
entanto, negou-lhe o direito dizendo não ter apresentado prova de pobreza
e, também, por estar representado no processo por "advogado particular".

               A decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a
partir do voto do desembargador Palma Bisson é daquelas que merecem ser
comentadas, guardadas e relidas diariamente por todos os que militam no
Judiciário.

               Transcrevo a íntegra do voto:

               "É o relatório. Que sorte a sua, menino, depois do azar de
perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele
-, com o indeferimento da gratuidade que você perseguia. Um dedo de sorte
apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do distribuidor,
perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com
efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.

               Aquela para mim maior, aliás, pelo meu pai - por Deus ainda
vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita
por ele em paubrasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de
trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que
cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que
me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que
nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo,
meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros
marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num
velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que
cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali
tostado no paralelo da faina menina.

               Desde esses dias, que você menino desafortunadamente não
terá, eu hauri a certeza de que os marceneiros não são ricos não, de
dinheiro ao menos. São os marceneiros nesta Terra até hoje, menino saiba,
como aquele José, pai do menino Deus, que até o julgador singular deveria
saber quem é.

               O seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi atropelado
na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é
motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em
casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em
nome habitava, sinal de pobreza exuberante. 

               Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino,

no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer.
Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida,
o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.

               Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba
mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho
de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de
riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do
causídico. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando
advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro
com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba
honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que
me proporcionou.

               Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve
procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro
grosso dos preconceitos...           

               Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a

gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões
para quem quer e consegue ouvir.

               Fica este seu agravo de instrumento então provido; mantida

fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da tutela recursal.

               É como marceneiro que voto.

               JOSÉ LUIZ PALMA BISSON - Relator Sorteado"



Conteúdo enviado por: Jussara A. L. Ferreira.

16.6.11

FAUNA, NATUREZA E SABEDORIA



Sábias reflexões sobre o que, de fato, vale a pena na vida. Ligue o som e clique para avançar (apresentação sem identificação do autor).
Agradecimentos: José Ricardo de Antoni.

8.6.11

SOLIDÃO CONTENTE



O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas

Ivan Martins
Arquivo Época

IVAN MARTINS  é editor-executivo de ÉPOCA
Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.
Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas. 
Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha. 
Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas. 
“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”. 
Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor. 

Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou. 
Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.
A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem. 
A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.
Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?
A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade. 
Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda. Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. 
Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. 
Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha. 
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.